- Santa Barbara, Califórnia,
2007
“Posso te sequestrar hoje?
kk”
Acordei com essa mensagem ás
duas horas da manhã.
“Pode kk”
“Então vem aqui fora. Estou
na sua porta já”
“Mas agora?”
“È, porque não?”
Ninguém notaria minha
“escapada”. Aceitei o convite.
“Combinado. Só vou trocar de
roupa”
Um jeans e uma camiseta
serviriam. Desci com cautela a escada, e saí pela porta dos fundos, para não
ser notada.
E lá estava ele dentro de sua
caminhonete antiga. Respirei fundo, corri pela rua, entrei apressada no carro e
lhe dei um beijo apaixonante.
- Senti sua falta meu anjo –
disse ele com o mesmo sorriso encantador de sempre.
- Sinto falta do seu skate.
Ele começou a rir – Amanhã
andaremos nele, pode ser?
- Sim! – Respondi encantada –
E então? Para onde vamos?
- Paraíso do papis – disse
ele com orgulho.
Não entendi para onde
iríamos, mas confiava nele, então não me preocupei em perguntar novamente.
Liguei o som, e, por incrível
que pareça, estava passando Bohemian Rhapsody do Queen. Cantamos durante todo o
percurso, como se fossemos donos da noite, em alto volume, gritando e rindo,
loucos por um uma diversão.
O gelado vento balançava
nossos cabelos e dava-nos a sensação da liberdade. Éramos como pássaros
selvagens voando sem destino, apreciando a felicidade oferecida pelo simples
contato com a natureza.
- Chegamos. – Disse ele em
meu ouvido. – Pode abrir os olhos anjos.
Estávamos em um local escuro.
Havia inúmeros galpões, gigantes... Não sabia como aquele lugar poderia ser o
paraíso de alguém.
- Vamos entrar?
- Entrar? Onde?- Perguntei
tentando encontrar algum lugar encantador.
Ele pegou em minha mão e me
guiou até um dos galpões. Abriu a porta, e como já era de se esperar, via-se
uma cena fantasmagórica através do breu.
Ele me guiou por uma longa
distância e me disse para ficar parada. Obedeci. Confesso que o pavor apareceu
em minha mente. Não convivia muito bem com ambientes escuros (principalmente
quando estranhos).
- Achei! – Gritou ele, longe.
As luzes se acenderam. Fiquei
cega com a súbita claridade, mas assim que meus olhos se ajustaram, percebi o
mundo que ele me falara e, além disso, a declaração que ele me fazia.
Era o salão de jogos do
shopping. Já estive lá inúmeras vezes com meus amigos, mas nos placares e telas
de todos os jogos, via-se apenas uma frase, escrita com letras variadas, cores
e efeitos diferentes: “Eu te amo Ana Clara”. Senti o chão ceder sobre mim. Como
alguém poderia ter um coração tão lindo quanto o dele? Como pude ter tanta
sorte em encontrá-lo?
E então o vi em um canto,
tímido. Era difícil para ele demonstrar algo assim. Lancei-lhe um sorriso
exuberante e espontâneo. Abri os braços, chamando-o de encontro a mim. Ele
pareceu compreender. E lá estava ele, cabelos desgrenhados, calça surrada e
camisa larga (de uma banda que não reconhecia). Como era perfeito! Abraçou-me
por um longo momento e depois segurou meu rosto entre as mãos, forçando-me a
olhar em seus olhos. Corei como já esperado. Ele acariciou minhas bochechas e
deixou escapar “como você é linda” em um sussurro. Então me beijou suavemente.
- Que tal jogarmos? – Sugeri sussurrando,
sem fôlego.
Ele abriu um sorriso imenso. –
Pensei que jamais ia dizer isso.
Ficamos muito tempo jogando (e
quando digo muito, acredite, não é uma hipérbole). Quando percebemos já era
07:00 da manhã. Fiquei de castigo assim que cheguei em casa (até porque meus
pais não são do tipo liberais modernos), mas isso não vem ao caso. Posso apenas
dizer que faria tudo novamente se fosse possível, sem arrependimentos.
("Jéssica Stewart")