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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Valentine #3



     - Santa Barbara, Califórnia, 2007

     “Posso te sequestrar hoje? kk”

     Acordei com essa mensagem ás duas horas da manhã.

     “Pode kk”

     “Então vem aqui fora. Estou na sua porta já”

     “Mas agora?”

     “È, porque não?”

     Ninguém notaria minha “escapada”. Aceitei o convite.

     “Combinado. Só vou trocar de roupa”

     Um jeans e uma camiseta serviriam. Desci com cautela a escada, e saí pela porta dos fundos, para não ser notada.

     E lá estava ele dentro de sua caminhonete antiga. Respirei fundo, corri pela rua, entrei apressada no carro e lhe dei um beijo apaixonante.

     - Senti sua falta meu anjo – disse ele com o mesmo sorriso encantador de sempre.

     - Sinto falta do seu skate.

     Ele começou a rir – Amanhã andaremos nele, pode ser?

     - Sim! – Respondi encantada – E então? Para onde vamos?

     - Paraíso do papis – disse ele com orgulho.

     Não entendi para onde iríamos, mas confiava nele, então não me preocupei em perguntar novamente.

     Liguei o som, e, por incrível que pareça, estava passando Bohemian Rhapsody do Queen. Cantamos durante todo o percurso, como se fossemos donos da noite, em alto volume, gritando e rindo, loucos por um uma diversão.

     O gelado vento balançava nossos cabelos e dava-nos a sensação da liberdade. Éramos como pássaros selvagens voando sem destino, apreciando a felicidade oferecida pelo simples contato com a natureza.

     - Chegamos. – Disse ele em meu ouvido. – Pode abrir os olhos anjos.

     Estávamos em um local escuro. Havia inúmeros galpões, gigantes... Não sabia como aquele lugar poderia ser o paraíso de alguém.

     - Vamos entrar?

     - Entrar? Onde?- Perguntei tentando encontrar algum lugar encantador.

     Ele pegou em minha mão e me guiou até um dos galpões. Abriu a porta, e como já era de se esperar, via-se uma cena fantasmagórica através do breu.

     Ele me guiou por uma longa distância e me disse para ficar parada. Obedeci. Confesso que o pavor apareceu em minha mente. Não convivia muito bem com ambientes escuros (principalmente quando estranhos).

     - Achei! – Gritou ele, longe.

     As luzes se acenderam. Fiquei cega com a súbita claridade, mas assim que meus olhos se ajustaram, percebi o mundo que ele me falara e, além disso, a declaração que ele me fazia.

     Era o salão de jogos do shopping. Já estive lá inúmeras vezes com meus amigos, mas nos placares e telas de todos os jogos, via-se apenas uma frase, escrita com letras variadas, cores e efeitos diferentes: “Eu te amo Ana Clara”. Senti o chão ceder sobre mim. Como alguém poderia ter um coração tão lindo quanto o dele? Como pude ter tanta sorte em encontrá-lo?

     E então o vi em um canto, tímido. Era difícil para ele demonstrar algo assim. Lancei-lhe um sorriso exuberante e espontâneo. Abri os braços, chamando-o de encontro a mim. Ele pareceu compreender. E lá estava ele, cabelos desgrenhados, calça surrada e camisa larga (de uma banda que não reconhecia). Como era perfeito! Abraçou-me por um longo momento e depois segurou meu rosto entre as mãos, forçando-me a olhar em seus olhos. Corei como já esperado. Ele acariciou minhas bochechas e deixou escapar “como você é linda” em um sussurro. Então me beijou suavemente.

     - Que tal jogarmos? – Sugeri sussurrando, sem fôlego.

     Ele abriu um sorriso imenso. – Pensei que jamais ia dizer isso.

     Ficamos muito tempo jogando (e quando digo muito, acredite, não é uma hipérbole). Quando percebemos já era 07:00 da manhã. Fiquei de castigo assim que cheguei em casa (até porque meus pais não são do tipo liberais modernos), mas isso não vem ao caso. Posso apenas dizer que faria tudo novamente se fosse possível, sem arrependimentos.


("Jéssica Stewart")

Carta para uma amiga...

Algum Lugar, 15 de abril de 2011

     Querida amiga, (sinto a sua falta).

   Oi. 
   Tudo bem com você aí? Você ainda se lembra de mim? Aquela sua amiga de infância. Que guardava todos os seus segredos. Que compartilhava as broncas da professora por conversar muito... Bons tempos aqueles...
   Lembro-me de você até hoje... Das suas tranças, das suas bochechas inchadas, do sorriso que não saia de seu rosto...
   Muita coisa mudou depois que você se foi. Eu por exemplo mudei muito... Parei de conversar nas aulas. Agora sou CDF. Passei o restante do ano meio pensativa. Meio sem chão. Tive de sair da escola. Meu psicológico não permitiu que continuasse lá...
   Farão 7 anos desde a ultima vez que a vi. Lembro perfeitamente. Seu pai estava no portão da escola e você me apresentou a ele como "sua melhor amiga".
   Ah como era bom aquele tempo... Nossa amizade era perfeita. "Carne e unha" era como nos chamavam, lembra?
    Aprendi coisas com você que guardo até hoje. Não se lembra? Quando eu machuquei meu dedo, você lavou e amarrou um pedaço de fita para parar a dor. Você queria muito ter um irmão, mas sabia que isso não era possível e sempre achava um lado bom  e com isso aprendi a ser feliz apesar de tudo o que pode acontecer em minha vida.
    Aos 7 anos, todo mundo é amigo. Mas com você era diferente. Sentia que aquilo seria para a vida toda. Uma amizade eterna. Mas você se foi...
   Hoje sinto sua falta mais do que nunca... Parece que não tenho nenhuma amiga mais.
   Por que meu Deus!!! Uma menina tão jovem... tão inocente... tão querida por todos...
   Mas agora tenho certeza de que você é um anjo! Meu anjo da guarda! Que sempre me acompanhou e vai me acompanhar pelo resto da minha vida...
   Aonde quer que você esteja, espero que esteja lendo o que escrevo. São palavras sinceras. A voz do meu coração, que não aguentava mais esperar para deixar tudo escapar e principalmente dizer o que eu nunca te disse: "Você sempre foi e sempre será meu anjo, será sempre aquela amiga que deixou marcas de felicidade em meu coração, que ajudou a construir a pessoa que eu sou hoje, será sempre minha irmã do peito, minha confidente, minha companheira para toda a vida, minha melhor amiga..."
   Espero que esteja tudo bem com você aí. Que o Senhor Deus sempre guie você e que continue sempre sendo um anjo enviado por ele para cumprir suas missões...
   E por mais que o tempo passe, nunca esquecerei de você, da sua magia, da nossa amizade e continuarei sentindo sua falta sempre. Cada vez mais e mais...


Um grande abraço de sua melhor amiga que te ama muito...

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Valentine #2

- Santa Barbara, Califórnia, 2003. 

     Era dia de São Valentim. Fim do péssimo dia, para ser honesta. Por quê? Ora! Porque simplesmente ninguém havia lembrado de mim.
     Eu costumava a receber cartinhas anônimas de alguém especial todo ano. Mas esse ano, meu correspondente secreto não lembrou.
     “Boa tarde Aninha!” Dizia uma mensagem do Davi. Confesso que perdi o ar dos meus pulmões quando vi que havia uma mensagem não lida dele. Sim, achei que era algo a mais, que ele era meu anônimo... mas eram apenas falsas esperanças.
     “Boa tarde Dayves kkk” Respondi usando o apelido que ele menos gostava.
     “Dayves? Acabou com a minha alegria” Mandou imediatamente.
     “Alguma coisa esta acontecendo U.U”
     “Ó kkk acontecendo? Onde?”
     “Como você é bobo kk. Nunca me responde rápido :p”
     “Ah! Por isso? Tem sim U.U Algo chamado tédio”
     “Aff me ame menos flw? Kk”
     “Hm... não kk Partiu role?”
     Aquela chama de esperança surgiu de novo. Senti meu coração bater rápido.
     “Pra onde? To cansada demais hoje”
     “Por favor, Ana :( A comida é por minha conta :D”
     “Então tá kk, mas hoje eu realmente estou com muita fome kkk. Leve dinheiro. Tipo uns 50 kk”
     “Ok :) Passo ai daqui a 1 hora”
     Não sei o que aconteceu nesse tempo. Acho que estava tão chocada e feliz que apaguei, pois quando percebi, só faltavam 5 minutos até a chegada dele.
     Coloquei apenas um vestido florido e soltei meu cabelo. Não tive muito tempo para me arrumar.
     - Vai onde mocinha? – Indagou minha mãe enquanto descia a escada.
     - O Davi me chamou para passear mamis - dei-lhe um sorriso – com certeza vai me mostrar outra manobra de skate.
     - Hum... sei – me lançou um olhar desconfiado – Juízo hein?
     - Mãe é o Davi – Comecei a rir.
     - Justamente! Sei quem é ele. É melhor ir agora para poder voltar cedo.
     Nenhuma palavra foi dita. Apressei-me até a porta, e para minha surpresa lá estava ele.
     Cabelos grandes implorando para serem cortados, camisa mal passada, bermuda de lycra e dois skates; um no pé e o outro sendo oferecido a mim (mas devo admitir que era assim que gostava dele).
     Hesitei com a oferta do skate, e dei um passo para trás.
     - Ah! Para com isso Aninha! – Disse ele simpático – Sabemos que você anda melhor do que eu.
     - Querido, eu faço tudo melhor do que você – disse enquanto pegava o skate.
     - Ora! Que atrevida, hein Ana Clara? – e começou a rir. Confesso que meu mundo parou. Queria ficar ali a vida toda ouvindo o barulho da risada dele. – Mas – disse, com ênfase, como se percebesse que eu precisava ser acordada. – Como eu sei o caminho, você vai ter seguir a mim – completou triunfante.
     - Certo, certo. Vamos logo! Caramba, eu to com fome!
     Ele explodiu em uma gargalhada, e eu me derreti completamente.
     Andamos por cinco minutos até chegarmos a uma porta abandonada.
    - Ana – disse sério. – Eu preciso que você confie em mim.
    - Que isso menino?- dei um leve sorriso – Quer me assustar?
   - Não Ana... Só quero que você saiba que aqui é meu “lugar secreto” – disse ainda mortificado – Você é a primeira pessoa que vem aqui.
     - Ah... Obrigada, eu acho.
     Ele pegou em minha mão e apertou forte enquanto abria a porta.
     - Feche os olhos – pediu ele, gentilmente, em meus ouvidos.
     Ele me puxou um pouco para frente. Senti a porta se fechando atrás de mim.
     - Seja bem vinda Aninha. Pode abrir os olhos.
     E então eu vi um paraíso. Era um campo verde lívido, com a grama perfeitamente aparada e uma castanheira, enorme, no centro.
     - Vem! – Chamou ele.
     Corremos de mãos dadas, como no primeiro dia em que nos conhecemos.
     Embaixo da castanheira havia um lençol quadriculado estendido, com uma cesta de palha e um violão em cima.
     - O que é isso? – Perguntei incrédula. Obviamente era um encontro, mas era tudo tão maravilhoso que eu precisava escutar dele.
     - Um piquenique – deu-me um sorriso fraco
     Ainda estávamos de mãos dadas. Isso confirmava a minha hipótese.
     - Sente-se e vamos comer. Também estou com muita fome.
     E então, ambos começamos a rir histericamente enquanto comíamos. Fazíamos palhaçadas um para o outro. Era tudo tão mágico, tão encantador...
     Depois de comermos (muito), deitei-me em seu colo. Ficamos um bom tempo assim: eu deitada de olhos fechados, ele brincando com meus cachinhos, penteando com os dedos. Ele cantarolava a melodia de Save me dos Hansons enquanto eu, em silêncio, me deliciava com o som doce da voz dele.
     - Vamos, levanta. – Ele disse subitamente.
     Não sabia como responder àquela ação, então apenas o fitei perplexa.
     - Só se sente. - Deu um sorriso nervoso – tenho algo a mais para você.
     Sentei-me.
     Ele pegou o violão e se pôs a minha frente.
     - Por favor, não ria. – Disse ele com o mesmo tom ansioso
     “Não quero mais escrever em segredo
     Mesmo porque todos sabem o que eu desejo
     Sim, eu sou seu anônimo
     Desculpe-me por demorar tanto
     Mas eu não consigo ficar longe da pessoa que amo
     Sim, eu te amo
     Amo sue jeito de ser boba para me fazer rir
     O modo como não consegue mentir para mim
     Até a maneira como prende o cabelo quando fica nervosa
     Eu te amo com suas manias e defeitos
     Te amei por muito tempo em segredo
     Can you be my Valentine? (Você pode ser minha namorada?)”
     Não dissemos uma palavra sequer. Estava sem fala, sem ar e provavelmente teria um infarto. Ele esperava uma resposta, e eu estava muda.
     Uma lágrima apareceu no canto do seu olho. Virou abruptamente e começou a recolher tudo.
     Eu não conseguia me mover. Estava feliz, ansiosa, surpresa e apaixonada demais para isso.
     Ele terminou de arrumar tudo e começou a ir embora. Obriguei meu corpo a se mover e consegui alcançá-lo. Fiquei a sua frente impedindo sua passagem. Estava com a cabeça baixa e os olhos muito vermelhos.
     - Sim. – sussurrei, mas ele pareceu não entender. – Sim! Caramba! Por que acha que não aceitaria? – Gritei
     Ele me olhou surpreso. E quando viu minha expressão de ansiedade acreditou no que acabava de dizer.
     Deixou tudo cair no chão, espalhando uma diversidade de comida pelo chão. Cuidaríamos disso mais tarde.
     Colocou meu cabelo gentilmente atrás de minhas orelhas com um das mãos, enquanto a outra me puxava pela cintura para mais perto de si.
     Uma gota caiu sobre meus ombros. Não lhe demos muita atenção.
     E ali mesmo, na chuva, demos nosso primeiro beijo. O campo se tornou nosso paraíso secreto desde então.

("Jéssica Stewart")

Valentine #1

      - Santa Barbara, Califórnia, 1995.


     Era meu primeiro dia de aula. Estava assustada, nunca estivera em um local como aquele, colorido repleto de outras crianças e com pessoas extremamente altas, que me abraçavam e afagavam meu rosto a todo o momento.
     Não chorei como as outras crianças fizeram. Sentei-me em um cantinho e fiquei lá um tempão.
     - Oi. Qual é o seu nome? –Disse um menininho de cabelos castanhos sentado ao meu lado.
     - Ana Clara – respondi – E o seu?
     - Davi. Quer brincar?
     - Sim! – Respondi com um sorriso.
     Corremos juntos pelo pátio, enquanto brincávamos com outras crianças.



- Santa Barbara, Califórnia, 2013.

     - Bom dia John! – Disse virando-me ao meu marido.
     - Bom dia Ana – Disse ele apressado enquanto trocava de roupas para ir ao escritório trabalhar.
     Era sempre a mesma rotina. Acordar, olhar minha filha dormindo, arrumar a casa, brincar com ela... Tudo tão monótono.
     Fui até o berço, e lá estava ela, Júlia, linda como sempre, acordada com os olhinhos grandes me observando e sorrindo para mim.
     O melhor presente que poderia querer. Era grata por ela, pelos sorrisos que recebia dela, pelas vezes que ela conseguia agarrar seus dedinhos no meu cabelo, e até mesmo pelas noites mal dormidas em que tinha que pegá-la no colo e fazê-la parar de chorar.
     -Bom dia minha linda! – Disse a ela com um sorriso – O que quer fazer hoje?- Peguei-a no colo e a levei para a sala.
     Liguei a televisão em um canal qualquer. Coloquei- a em sua cadeirinha enquanto preparava seu alimento.
     - Depois de sete anos longe de casa, o astro do rock alternativo retorna para a casa – Dizia a moça do jornal matinal.
     - Olha filha, enfim vai ter um show decente – disse sorrindo, mas sem dar muita importância ao fato.
     Preparada a mamadeira, sentei-me no sofá com minha pequena no colo, e me prontifiquei em assistir ao jornal de sempre.
     - E volta, depois de 7 anos longe de Santa Barbara, o ídolo do rock alternativo do momento. – Disse a âncora do jornal.
     - E Santa Barbara se torna o point dos jovens rockeiros – disse com sarcasmo para minha filha, que soltou uma gargalhada.
     - Davi Ferguson fará dois shows na cidade, um no estádio e acústico, apenas para convidados especiais – Disse a âncora.
     Davi Ferguson?!?– Peguei meu celular, trêmula, e liguei para Ângela, minha amiga de infância.
     - Ana? Oi! Meu Deus! Quanto tempo! Disse ela eufórica.
     - Ângela? Eu preciso te fazer uma pergunta.
     - Hum, pela sua voz já imagino que ficou sabendo quem está voltando.
     - Então é mesmo ele? – Perguntei descrente.
     - Sim. E, bem, já comprei meu ingresso.
     - Você vai?
     - Sim, ora. Ele canta bem... E a Fernanda e o Carlos também vão.
     Não eram eles que não gostavam deles? Quem me fizeram desistir da vida que eu queria?
     - Então também vou! – Disse decidida.
     - Você o quê? Não! Ana você é casada e tem um bebê lindo...
     - Ora! Eu vou apenas a um show com meus amigos. Não vou abandonar minha família – dei uma risada suave, só para quebrar a tensão.
     - Tem certeza?
     - Absoluta! Nós nos vemos lá então?
     Desliguei o celular. Precisava pensar sobre tudo.




("Jéssica Stewart")