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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Sonhe com os anjos - 1

   O ano termina. É tempo de renovação. Para presentear os nossos leitores, daremos uma nova escritora: Regal Crescent. E ela vem com tudo, fazendo vocês sonharem com os anjos.


Capitulo 1 – Dia da Amy

“Estava tudo vazio, eu estava sozinha vendo o imenso nada ao meu redor.De repente,ouço uma voz suave pedindo ajuda. - Por favor, alguém me ajude! Eu imploro, me ajude! - Logo, vi um alçapão à minha frente e percebi que a voz vinha de lá.Pedi que a pessoa se acalmasse,peguei a alça e puxei com toda a força que tinha,mas aquela porta estava emperrada e escorregadia,porém não desisti,até que...BLAM! A porta do alçapão se abriu,e foi quando eu tive a chance de ver quem estava preso.Ele saiu da escuridão e logo vi que era um...”

*DESPERTADOR*
Acordei cedo de outro sonho incrível,já é a terceira vez que isso me aconteceu.Já começo a achar que é um sinal.Eu sou conhecida pelas minhas amigas por ter sonhos realistas e premonições. Loucura, né?
Depois de acordar, foi para o banheiro, escovei os dentes, lavei o rosto e penteei o cabelo, vesti minhas roupas e fui para a escola.

Encontrei minhas amigas em um pequeno grupo conversando:
-Oi, Amy- Falou Camille, minha melhor amiga. Ela é super doce, parece até um bibelô super frágil, mas tem suas surpresas.
-E aí, Pinky?- Perguntou Rebecca, a menina mais popular do grupo e da escola. Ela me apelidou de Pinky porque pintei meu cabelo inteiramente de rosa.
-Fala, Amy!- Disse Bianca, a mais séria de todas, porém gentil por dentro, até mais que Camille.
-Teve outra premonição, Amy? –Indagou Taffyta, muito tímida e talentosa. Sempre diz algo parecido com o que ia ser dito pelos outros, como se ela pudesse ler nossas mentes.
-Parece que você acertou de novo, Taff. - Suspirei. - Tive sim, mas queria saber como terminava, pois foi tão de repente.
-Conta pra gente como foi-Disse Camille.
Rebecca foi logo completando:
-Isso, conta, mas só depois de olhar aquilo ali!

Estranhei a Rebecca quando não se interessou pelo meu “sonho” de hoje (ela ama saber dos meus sonhos principalmente inventar os finais incompletos), mas vi o que tirou a atenção dela. Dois garotos que nunca tinha visto (novatos) estavam parados na porta de entrada da escola analisando tudo. Eles pareciam gêmeos, se não fossem seus estilos de roupas muito distintos. Ambos tinham cabelos negros, mas um possuía mechas vermelhas no cabelo, usava piercings, aderindo a um estilo gótico punker, mas continuava um mistério descobrir o que se passava em sua mente. O outro era bem diferente, com roupas simples e azuis, tinha uma expressão de “querer sempre uma aventura” e de ser muito atlético.
Não sei como, mas parecia que fiquei sonhando de olhos abertos -de novo- e só acordei com a sirene da escola. Peguei minha mochila, e antes de ir para a sala,olhei de novo os novatos. Parece que já fizeram amizade com um trio de rapazes.


quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

A saudade

     Era um dia calmo, chuvoso e frio. Adorava aquele clima aconchegante. Havia momentos que chegava até ficar feliz por estar ali, mas insistentes goteiras logo afastavam esse pensamento.
    Havia passado os dias refugiando-se em seus livros, mas nada desconectava sua mente à dele. Senti falta de seu perfume, se seu toque, de seu olhar. Estava apaixonada e bem ciente do fato.
     Sentia-se pequena em comparação à ele, mas logo esse sentimento era alterado por um amor intenso e profundo. Mesmo à distância, ele exercia grande efeito sobre ela e só de pensar nele, mal conseguia raciocinar. A saudade era muita.
     Um estalo a trouxe de volta dos devaneios. Pegou um papel e uma caneta e pôs a escrever, o que sempre a acalmava. Parou um instante e admirou a madeira que queimava a sua frente a fim de aquecê-la. As labaredas tornavam-se cada vez mais quentes e intensas, fazendo a lenha crepitar, semelhante ao estado de seu coração.

("Jéssica Stewart")

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A garota com apenas um olho - 4

Loucura
Marie chorou tanto naquela noite como nunca. Era sua pureza que se perdia ali, certo, mas o que estava em jogo entre os homens era quem era o mais viril e forte, quem conseguia manter a jovem submissa e principalmente qual deles a maltratava mais. Por fim, ela não aguentou mais, e depois de muito chorar resolveu tentar morder os homens, que agora afrouxavam um pouco as mãos. Certo que todos estavam cansados, porém a jovem estava decerto muito mais. Ela tentara resistir durante todo o tempo, mas a força de dois homens era muito superior a de uma mulher sozinha.
Aquilo doía muito, mas as feridas físicas não eram nem de perto superiores às feridas morais. Marie viu-se tratada como um animal, viu sua decência ser escancarada na cara daqueles dois homens, e o pior: Um deles era o marido dela.Como ele pode ter feito aquilo, e principalmente, por quê? Marie simplesmente não conseguia entender tal crueldade.
Ao final do ato, os dois homens se limparam, vestiram-se e saíram contentes e tagarelantes daquele local macabro. Marie ficou ali, ensanguentada, soada e toda suja, fora as poças de lágrimas no travesseiro. Tudo nela doía.
Somente o que ela podia fazer era tentar pedir ajuda. Rapidamente, lavou-se em uma bacia de banho que encontrara próxima ao toalete e foi de encontro a sua amiga Pauline, que ela deduzira ser o quarto dela, pois foi onde a mulher entrou pela última vez.
Contudo, ao abrir a porta do quarto, uma surpresa também tenebrosa: Pauline encontrava-se amarrada com fortes cordas na cama de casal e tinha a boca atada com um lenço. Os olhos da garota também haviam sido tampados com uma venda. A posição em que ela se encontrava era vergonhosa, e havia um homem nu na cama. Marie conseguiu dessa vez gritar horrorizada, e o homem rapidamente saiu de cima da mulher,pegou seu sobretudo, vestiu-o e saiu em disparada, virando à esquerda para sair ao salão onde as duas haviam tomado a sopa.
Felizmente Pauline havia sido salva daquela barbaridade por Marie. Infelizmente, Marie voltou a chorar lembrando-se do que acontecera com ela e pouco pode fazer para consolar Pauline. A jovem Marie ajudou a triste Pauline a se limpar, se vestir e elas cederam-se ombros amigos. As moças choraram incessantemente por longos trinta minutos, depois, desabafaram tudo o que estava engasgado em suas gargantas.
Pauline ficou estarrecida com o que acontecera com Marie, principalmente pelo fato de que um dos homens era marido dela, e ficou agradecida por Marie tê-la salvo. Isso seria uma dívida muito difícil de pagar, mas a moça prometeu à Marie que a ajudaria de qualquer forma.
Mas antes as duas necessitavam sair dali para evitar que algo pior acontecesse.
Marie voltou à seu quarto correndo e combinou de encontrar com Pauline no corredor em dez minutos, porém ao chegar lá ela encontrou-o trancado. Desesperou-se. A moça correu o mais rápido que podia para encontrar com sua amiga e saírem daquele local o quanto antes. Ao dobrar uma curva que dava acesso ao corredor da estalagem, Marie encontrou com a dona “generosa” do local, que tinha Pauline presa pelas mãos por um homem forte e de aparência estranha. Marie instintivamente atacou-o antes que ele a prendesse. O homem tentou bloqueá-la, contudo o máximo que pode fazer foi barrar a jovem naquele ataque de fúria. A moça dava chutes no ar e já se preparava para utilizar de toda a sua força quando que seu instinto de presa a fez dar um poderoso chute no meio das pernas do homem. O mesmo gritou de dor e soltou na hora Pauline. As duas jovens conseguiram derrubar a dona da estalagem e correram muito, porém antes tiveram que passar pelo salão principal do lugar para enfim fugir.
Lá, encontraram Calvin e Charles, os dois covardes que haviam violentado Marie, conversando satisfeitos com o terceiro homem que tentara violentar Pauline. As garotas bateram em retirara quando viram que Calvin e Charles se levantaram da mesa, junto com mais dois homens e vieram de encontro as duas moças. As mesmas soltaram gritos de espanto e trataram de correr.
Os quatro homens seguiram as moças até elas alcançarem a avenida principal. Chegando lá, três deles, incluindo Charles, desapareceram nas sombras e deixaram Calvin sozinho para fazer o que quisesse com as duas. Marie tentou chamar por socorro, mas naqueles tempos e àquela hora da madrugada, ninguém exceto os três estava na rua.
Calvin parecia ter a situação sob controle durante todo o tempo, e seguiu lentamente ao encontro de Marie e Pauline. As jovens tentaram correr, atravessaram as quatro faixas da avenida apressadas e pularam violentamente a mureta que separava o tráfego nos dois sentidos, porém se viram encurraladas em um beco estreito e escuro, cercadas por Calvin. Nesse momento, eis que reaparece Charles para aproveitar-se mais um pouco.
            -Escolhes quem Charles? Disse Calvin – Eu me satisfaço com qualquer uma das duas. Marie seria minha indicada. É muito boa para ser verdade!
Os dois homens riram.
Marie e Pauline começaram a chorar.
-Já sei, Calvin. Deixarei a da direita para você e ficarei com a da esquerda, fechado? Perguntou Charles,já abaixando as calças.
Ele havia escolhido Pauline.
-Ótimo, melhor assim. Marie, meu amor, esta noite você é novamente toda minha! Riu desdenhosamente – Pronta?
Marie gritou muito. Pauline gritou também.
Seus gritos vieram a acordar a vizinhança, e cerca de cinco pessoas chegaram das janelas para conferir o que acontecia naquele beco. Porém nenhuma delas ousou intervir no fato.
Rapidamente Calvin abaixou as calças e retirou as roupas íntimas. Charles já o havia feito a tempos. Agora,os dois homens nus avançavam para as moças e tentariam novamente retirar-lhes mais um pouco da dignidade.
Contudo, quase no momento em que Calvin encostou em Marie, uma voz masculina falou alto e ordenou:
-Tirem as mãos delas, seus covardes, ou serei obrigado a matar vocês dois sem pestanejar – e completou – Também cubram suas vergonhas, que não sou obrigado a ver esses seus membros nus e vergonhosos. Deveriam esconder os seus rostos para que não sejam taxados de estupradores e linchados aqui mesmo. Eu serei obrigado a levá-los para a delegacia, porque com a raiva que estou poderia esmagar seus miolos aqui mesmo, seus covardes.
Os dois homens começaram a vestir suas roupas, ainda virado de costas para o homem que salvara as garotas. Marie e Pauline estavam com os vestidos levantados, e trataram de se arrumar para esconder suas partes íntimas. Mais pessoas agora chegavam ao beco atraídas pelo barulho da confusão e um pequeno tumulto começou a se formar.

***

De repente, do meio da multidão saiu um tiro abafado e estrondoso que atingiu em cheio o peito de Charles, e o mesmo caiu morto e seminu no chão. As pessoas desesperaram-se e cada uma correu para o lado que estava mais fácil, imediatamente entrando em suas casas e trancando as portas.
Agora, o sangue do homem morto jorrava da perfuração e formava uma bela poça aos pés das moças, que estavam em estado de choque depois daquilo tudo. Marie chorava muito e Pauline tinha ficado paralisada e sem ação depois daquilo tudo. Ela não reagiu muito bem ao quase estupro da primeira vez e agora se sentia perseguida por tudo e por todos. Ela não conseguira se vestir e muito menos esboçou alguma reação com a cena que podia claramente ver aos seus pés. Ela simplesmente começou a chorar e abaixou-se para segurar as mãos de Charles.
Marie ficou impressionada com a reação da amiga, porque o homem que a poucos minutos a tentava violentar agora era acalentado pela mesma. Isso era realmente muito estranho. Tão estranho que Marie resolveu perguntar:
-Pauline, explique-me por que você está agindo assim. Esse homem tentou violentar-te, mas você chora por vê-lo morto! Isso é loucura!
-Certamente que não, querida amiga. Respondeu Pauline aos prantos. Quando se ama alguém muito forte como eu o amei, não queremos perdê-lo por nada nesse mundo.
Marie questionou, aturdida:
-Mas você o amava?
E Pauline respondeu, sentida:
-Como não podia amar? Ele era o meu marido!
Até Calvin, já preso por dois homens, espantou-se. Uma interjeição de surpresa criou-se entre os poucos moradores que voltaram para presenciar o fato e um estrondoso “oh!” foi ouvido.


Pauline estava chorando rios de lágrimas quando Marie a consolou, dizendo:
-Amiga, agora não podemos fazer nada por ele. Infelizmente é o seu fim.
Ele se foi. Agora está em um outro lugar, melhor do que o nosso, eu garanto.
            -Claro, Marie. A dor de uma perda é pior do que a dor que ele te fez e tentou fazer comigo. Deixe-me chorar um pouco mais.
            Marie então saiu aturdida daquela cena e deu de caras com Calvin, que estava reclamando da força com que le prendiam nas mãos. Por fim, ela chegou bem perto de seu rosto formoso e muito bonito. Resistiu muito a dar-lhe um beijo, pois a raiva que sentia era muito maior.
            O homem ficou confiante de que Marie esquecera o estupro que ele tinha cometido. Achou que ela ia beijar-lhe e mandar soltá-lo. Sorriu um sorriso estonteante.
            Marie estava agora a menos de cinco centímetros de sua boca, e abriu os lábios para dar-lhe um beijo romântico. Mesmo preso, o homem inclinou-se para a frente e também preparou-se para beijar-la.
            -Querida, desculpas-me?
            -Claro amor. Mas não fale mais nada. Apenas me beije.
            E os dois esticaram os lábios, que se encontraram por apenas um segundo, antes de Marie abocanhar a carne da boca de Calvin. O homem gritou muito, e a mulher, com a boca também cheia de sangue, ria alto.
            As atenções se voltaram à ela. Aquela mulher havia enlouquecido. Ela mastigava os pedaços dos lábios de Calvin que conseguira arrancar, em uma cena certamente muito horripilante.
            O homem gemia de dor, e o sangue que jorrava de seus lábios era tão intenso que ele logo ficou tonto e caiu ao chão.
            -Chamem socorro, por favor, ou o homem morrerá aqui mesmo!
            -Deixem-no morrer! Ele merece! Disse Marie, que acabara de comer aquela carne dos lábios de Calvin – Ele me violentou. Merece morrer! Querem que eu termine o trabalho? Ficaria satisfeita!
            Dois homens correram e seguraram Marie pelas costas, tentando impedir que algo pior acontecesse. Contudo, esqueceram-se de tampar a boca da mulher e acabaram sendo mordidos também.
            Marie não era mais a mesma.
            Nos rostos de quem assistia àquela cena, viam-se expressões do mais profundo espanto e medo. Espantadas com a cena, as pessoas começaram a ficar indignadas e queriam matar Marie ali mesmo, porém Pauline interveio pela amiga a abraçou-a com muito carinho.
            A mulher sossegou um pouco, e foi-lhe chamado um manicômio para interná-la. Primeiro chegou a ambulância para levar Calvin, que ainda estava desacordado, mas ela acabou levando também os dois homens que foram mordidos por Marie.

            Poucos minutos depois de a ambulância ter chegado, o carro do manicômio chegou com dois enfermeiros. Junto dele, um carro de uma funerária que viera levar o corpo do homem morto. Chegaram ainda duas viaturas policiais e mais uma com peritos criminais para analisar as diversas causas do crime que havia sido cometido.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

E a saudade, como fica?

Passa os anos, dias, vidas
Coleciona-se lembranças, memórias, sorrisos
Ficam fotos e cartas
Abraça-se os momentos que ficaram para trás
E já se sente saudade de um tempo que talvez não vá acabar tão cedo.

Mas um talvez não é certeza
E mesmo se fosse, a vida "daria seus pulos"
Encontrando sempre um jeito de nos tirar o que é bom

Resta apenas enfrentar o futuro
Incerto, sem destino, confuso
Com bravura e coragem,
Sem medo do que há pela frente
Ou pelo menos fingir ser assim

E na calada da noite desmoronar
Ao sonhar acordada com momentos que não vão voltar
Com salobras gotículas de saudade pulando
dos olhos já cansados de tanto chorar.

("Jéssica Stewart")

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Valentine #4

    
     - Santa Bárbara, Califórnia, dias atuais
   - Você tem certeza disso Ana? - Perguntou-me Fernanda.
   Não. Eu não sabia se queria vê-lo. Já se passaram muitos anos desde a última vez em que nos encontramos. Não sabia o que esperar desse reencontro, muito menos o quanto isso afetaria minha vida. Havia muitas coisas em jogo... Minha família, meu casamento, meu bebê... Queria somente fugir dali, como uma criança indefesa, mas não poderia deixar minha imaturidade afetar minha vida novamente. Por isso coloquei toda a autoconfiança que ainda restava em mim para fora. Respirei fundo. 
   - Sim.
   - Então.. Hum - Ela Hesitou
   - Fernanda, eu não posso mais adiar isso.
   - Tá bom... Apesar de que eu ainda não concordo com...
   - Ah! Pelo amor! Lá vem você de novo! Me dá logo essa credencial! - Exagerei, levantando a voz.
   - Obrigada pela calma. Agora sim eu sei que você não deve aparecer lá. - Disse ela convencida, virando as costas para ir embora.
   - Não! Fê - ela virou e me fitou, esperando uma resposta - me desculpa... eu estou um pouco chocada e surpresa... mas estou sob controle.
   - É. Percebe-se. - Disse irônica
   - É sério Fê. É importante.  
   - Olha - falou enquanto vinha em minha direção - Tenho plena consciência de que eu estraguei tudo da última vez. Então, boa sorte e vê se consegue agir com essa sua cabeça funcionando bem, pelo menos uma vez na vida, e lembre-se que você tem um marido que te ama e uma filhinha linda. - E me deu a credencial que me daria acesso à coletiva de imprensa que aconteceria antes do show. 
   Fernanda é repórter de uma revista local, de pouca influência. Seu sonho era conseguir chegar a um telejornal da BBC como âncora, mas sabia que ela estava me ajudando com a intenção de que o Davi interferisse por ela, e enfim realizá-lo. Não me importei com suas intenções ou o que quer que seja. Eu precisava vê-lo. Tinha um pedido de desculpas a fazer e assim, quem sabe, teria paz no meu coração.
   - Eu tenho que ir Ana, foi um prazer te ver hoje - Disse ela se despedindo.
   - Fica mais um pouco - Insisti.
   - Não posso... eu tenho um compromisso.
   - Compromisso? Oh! Entendi! Qual é o nome dele, hein?
   - É... Roger - E abriu um sorriso constrangida;
   - Hm. De qualquer forma, obrigada. Volte sempre!
   E saiu pela porta.
   Não  me importei com o clima de mistério transmitido por ela. Tinha o direito de ter seus segredos de vez em quando.
   Peguei Júlia no colo e fui dar mamadeira a ela, no mesmo instante ela abriu um sorriso banguela que fiz minha vida valer a pena.
                                                                                  
("Jéssica Stewart")

sábado, 14 de dezembro de 2013

A garota com apenas um olho - 3

A estalagem


Marie, mesmo atordoada com o momento que acabara de viver,reuniu forças,deu costas a Calvin e bateu em retirada rumo à estação de ônibus. Ao chegar lá,soube que o mesmo já havia saído,portanto ela teria que permanecer mais um dia naquela cidade,visto que o próximo ônibus somente sairia às 9 horas da manhã do dia seguinte.
Logo a jovem ficou amargurada pela dor de ser tratada como uma qualquer.Aquilo doía nela mais do que uma faca que transpassa a pele,uma dor incurável e insaciável, que fazia queimar suas entranhas em um burburim intenso de sensações deprimentes. Ah! Como ela queria esquecer tudo que havia se passado e começar uma nova vida, mas naqueles tempos não era muito bem aceito o divórcio, e a culpa sempre recaía sobre a mulher. Que desgosto!
Aos prantos e fraca de tanto chorar, a garota resolveu buscar algum abrigo, porém o dinheiro fora levado por Calvin e a ela só haviam restado alguns trocados, que mal davam para uma refeição.Somente lhe restava dormir na rua.
Procurando muito pelos bairros de Bruxelas, ela finalmente conseguiu encontrar uma estalagem barata para tomar uma “sopa de pedras” e alguns poucos goles de água que de nada serviram para hidratar sua garganta, que ardia mais do que um deserto ao meio dia.
Por fim, a dona da estalagem ficou comovida com a situação da moça e cedeu-lhe um cômodo para passar a noite em troca de alguns serviços especiais que ela somente saberia depois. A jovem prontamente se ofereceu para dormir ali em troca do serviço, que ela julgou ser fácil como a de lavadeira, passadeira ou arrumadeira, porém era muito além do que a frágil mulher poderia imaginar.
***


            Cerca de uma hora depois, a dona da estalagem entrou no quarto em que Marie estava e deixou duas caixas fechadas que ela falou que eram roupas. A sopa que Marie tanto aguardava ficara pronta a pouco e a mulher aproveitou para chamá-la:
            -Querida, está na hora do jantar, vamos comer? Aproveite que a sopa ainda está quente e está no início, quem sabe você não consegue fisgar um rapaz lá em cima? Olha que esse lugar sempre é muito movimentado, e hoje está especialmente esplendoroso! Ande logo e não se atrase, pois precisamos que você tenha muita energia para essa noite - Riu baixinho a mulher e saiu do quarto. Boa sorte, porque você precisará!
            Marie não entendeu nada.
            A moça preparou-se como sempre, e mesmo na amargura ela tentou ter um pouco de classe. Mais cedo a dona da estalagem dissera que seriam entregues também algumas roupas para que ela usasse à noite, e a jovem viu que não lhe faltavam motivos para abusar da boa vontade da mulher, pois suas roupas tinham se encardido um pouco para serem usadas para dormir ou sair. Poucos minutos depois, Marie viu-se imersa naquele caixote de madeira, que lembrava uma caixa de fantasias, procurando pela roupa ideal.
            Após algumas trocas de roupas, a menina ficou satisfeita com aquilo que via no espelho, e resolveu que era hora de ir jantar.
            Ao subir as escadas que a levavam para o salão onde eram servidas as sopas, ela percebeu que várias outras meninas, mais exatamente cinco, também subiam para a sala.
            As seis garotas se entreolharam e trocaram olhares desconfiados. O que elas estavam fazendo ali, ao mesmo tempo e com roupas quase que idênticas? Essa foi a pergunta que ressoou na cabeça de várias delas naquele instante.
            Logo as garotas já haviam chegado ao salão onde seria servida a sopa, e cada uma dirigiu-se a uma mesa diferente, e mesmo que muitas delas estivessem ocupadas por alguns poucos homens encapuzados, todas conseguiram lugares reservados.
            A “sopa de pedras” foi servida quente e acompanhada de um chá quente. Marie tomou-a com vontade, pois estava realmente faminta. O chá acabou em um minuto, e a jovem pediu outro, sendo prontamente atendida.
            ***

Porém, o que nenhuma delas reparou é que a dona da estalagem conversava incessantemente com cada um dos encapuzados que estavam nas mesas ao lado delas, e que pareciam negociar algo. Uma discussão se formou em um canto do salão, em que dois homens discutiam com a dona em um tom muito alterado e fora de cogitação para uma estalagem. Por fim, os dois chegaram a um acordo amigável e eles foram mandados para os fundos, de onde as moças tinham vindo.

***
Marie voltara cedo para o quarto, pois já se satisfizera somente com um prato de sopa e duas xícaras de chá, porém demorou um pouco a voltar a seu quarto porque ficou a conversar com algumas outras jovens que estavam ainda tomando sopa.
-Prazer, meu nome é Marie- disse à uma moça loira que estava finalizando o primeiro prato de sopa- vim de um vilarejo no interior da Bélgica, e fui largada pelo meu marido aqui sem dinheiro. Tenho uma casa em Paris, e você?
-Infelizmente, sou órfã há poucos meses e já fui largada às traças pela minha família. Sou daqui de Bruxelas mesmo, porém me cansei de ser abusada pelo meu irmão, ele é cinco anos mais velho que eu e mesmo antes de meu pai morrer ele já fazia certas coisas que eu não gosto. Agora, na última semana, ele tentou me estuprar. Isso para mim foi o estopim. Creio que nunca mais o verei, seja por raiva, seja por falta de dinheiro - Algumas lágrimas rolaram pelas bochechas rosadas da mulher- Nos últimos dias, passei muita fome, até que encontrei essa caridosa dona desta estalagem e ela me ofereceu abrigo, roupas limpas, água e comida em troca de um serviço especial que eu nem hesitei em aceitar.
-Eu também- Acrescentou Marie- A propósito, qual o seu nome?
A garota respondeu confiante:
-Pauline, e o seu?
-Marie, prazer.
-Prazer. Tenho certeza que seremos grandes amigas, minha cara.
-Que Deus te ouça, Pauline - Completou Marie.

***
Após se despedirem e marcarem de se encontrarem ali, no outro dia, no mesmo horário, cada garota rumou ao seu quarto tranquilamente e preparavam-se para dormir.
Contudo, Marie teve um susto muito grande ao abrir a porta de seu quarto e ligar a lamparina, para iluminar melhor o quarto. No cabide havia duas capas masculinas penduradas. De um lado, também estavam duas calças masculinas de cor escura, um chapéu preto, e uma veste íntima para os homens. Meio que jogados no chão, estavam dois pares de sapatos pretos, de bico longo, e bem lustrados.
Marie estranhou-se, e virou-se para a porta, pois achou que havia confundido de quarto, e no exato momento em que ela encostou-se à maçaneta da porta, ela ouviu ao fundo uma voz falar com ela:
-Espere um pouco garota, venha até aqui.
A jovem então se virou abruptamente, com o coração batendo rápido, e deparou-se com uma cena chocante: Em pé, ao lado da cama de madeira, se encontrava um homem, despindo-se de sua peça íntima, e já deitado na cama, encontrava-se outro homem totalmente nu.
Era ele quem havia chamado sua atenção, e quem falava novamente:
-Vejamos o que temos aqui, Charles.
Marie tentou gritar, porém o homem que estava de pé foi mais rápido e a impediu de emitir qualquer som. Nesse momento, a lamparina iluminou o rosto do homem que falara com Marie, que ela julgou reconhecer sua voz.
-Muito bonita por sinal. Essa noite será uma festa. Não concordas Calvin?
Marie congelou-se. Era seu marido que estava naquela cama nu e deitado, esperando por uma noite maravilhosa ao lado de uma mulher. E estava acompanhado por seu melhor amigo, Charles, também casado. Definitivamente a última cena que ela esperava ver, porém não teve tempo de fazer mais nada, pois as mãos grossas e fortes de Charles a apertavam firmemente, e Calvin levantou-se grotescamente para consumar o ato.



sábado, 7 de dezembro de 2013

A garota com apenas um olho - 2

 A verdadeira história

                      Pouco tempo depois,Marie tivera que viajar para tentar a sorte em Paris,a capital francesa,pois sua profissão não ia muito bem em sua cidade natal,uma vila no interior na Bélgica.A garota tinha planos de se mudar para lá se arranjasse um belo emprego,porém naquele momento o seu romance com Calvin estava tão maravilhoso que ela seria capaz de tudo para mantê-lo.
                    Chegado o grande dia da partida de Marie,Calvin ainda não havia se acertado com sua carreira de corretor de imóveis,mas decidiu,em uma atitude um tanto ousada,largar tudo para mudar-se também para Paris.Obviamente,sua namorada ficou muito contente,e convidou-o para tomarem um café,para despedirem-se da Bélgica de uma vez por todas.
                    Ao chegarem na cafeteria,escolheram a mesa mais reservada do local e pediram,cada um,um capuccino bem quente.Minutos depois de a bebida chegar,os dois já estavam envoltos em um beijo mais do que romântico,absortos em sua paixão.A garota,tímida como sempre,ficou muito corada quando percebeu que todos no local a olhavam,espantados pela cena que acabaram de ver.Marie sugeriu que os dois fossem embora e aproveitassem o ultimo dia na Bélgica em outro lugar.
                    Caminhando por um parque lindo no centro de Bruxelas,o casal acabou por parar de vez em uma loja de bolos confeitados,que os impressionou pela beleza e delicadeza nos detalhes das milhares de rosas,tulipas e jasmins doces que decoravam as centenas de bolos que estavam expostos.
                    Surpreendendo sua namorada,Calvin disse,delicadamente:
                    -Quem sabe o bolo de nosso casamento não possa ser tão lindo quanto algum dessa loja?Eu deixarei você escolhê-lo,porém eu quero que seja com recheio de doce de leite trufado,o meu preferido.
                    Os dois riram fervorosamente,e Marie completou:
                    -Muito bem senhor,onde pretende chegar com esse papo de bolos e doce de leite?Amanhã viajaremos para Paris para tentarmos uma nova vida lá nessa nova cidade e nós aqui,pensando em bolos.
                    -Pois então esqueça Paris e case-se comigo!Disse Calvin,nervoso com o pedido que acabara de fazer-Eu te peço,seja minha esposa!
                    -Mas somos tão jovens,meu amor,você não acha um pouco cedo demais não?Completou Marie,aturdida.
                    -Nosso amor é tão jovem,mas é puro e verdadeiro.Case-se comigo...
                    -Sím!Respondeu a jovem,que agora se tornaria esposa se Calvin.Mas e a viajem que iríamos fazer.
                    -Dizem que Paris é a capital dos namorados.Vamos tentar a nossa sorte?
                    Sem hesitar,a garota respondeu:
                    -Se você diz,prosseguiremos com nossos planos e seremos felizes em nossa jornada.


***

                    Dez dias depois,os dois já haviam se instalado em um apartamento simples nos subúrbios de Paris,e Marie já havia conseguido um emprego em uma clínica local que precisava de uma médica assistente.
                    Entretanto,Calvin ainda não encontrara trabalho,e passava as tardes a rondar pelo bairro,sozinho,e cantarolava algumas cantigas de amor para as belas moças que passavam na rua.A pobre Marie nem desconfiava,e todos os dias chegava do serviço,exausta,e dava um jeito de arrumar a casa e o jantar para seu esposo.Oficialmente,os dois ainda não haviam se casado,mas já eram quase marido e mulher.A jovem acreditava veemente que seu marido procurava por trabalho,porém o mesmo ficava a vagabundear pelas ruas e trair Marie com outras mulheres durante todo o dia.
                   
                    Contudo,os dias de mordomia de Calvin se acabariam pouco tempo depois,quando Marie adoeceu gravemente e seu marido teve que ficar de acompanhante no hospital por cerca de duas semanas e mais uma em casa,até que a garota estivesse completamente curada.
                    Por fim,os dois resolveram oficializar a união quase três meses depois de se instalarem na França.Foram a um cartório e registraram o enlace.A tola menina assinou os documentos certa de que Calvin a amava,porém tudo não passava de uma peça teatral criada por ele.
                   
                    Tempos depois os dois fizeram uma viagem de volta para a Bélgica,onde iriam visitar os parentes e anunciar a boa nova do casamento a todos.
                    Chegando na vila em que seus pais moravam,Marie apresentou o esposo à mãe,que já o conhecia,que foi agraciado com uma cortesia digna de reis,pois sua sogra convidara-no para se estalar um tempo por ali.
                    A casa de Marie era grande, porém simples, e a jovem ficava muito confortável por lá, por isso os dois decidiram aceitar o convite e se instalaram ali. O quarto do casal ficava no andar de cima,e as malas foram levadas por ele assim que souberam onde iriam ficar.
                    Duas horas depois,o homem já dormia na cama de casal,deixando a esposa sozinha a cozinhar o jantar.Ela já demonstrava certo desapontamento com o marido,e temia que algo de ruim acontecesse com ele,pois o mesmo mostrava-se muito cansado;porém acalmou-se achando que daquela vez o cansaço seria fruto da viagem longa que fizeram,e que aquela situação de estresse se resolveria naquela cidade pacata em que estavam.
                    A mãe e a filha ficaram horas conversando na cozinha.Falaram de tudo um pouco,desde assuntos banais a seríssimos conselhos sobre filhos e a vida conjugal.Explicou que,naquele momento,a filha deveria se precaver e evitar relações com o marido,pois era muito jovem para ter filhos.Marie concordou,e disse que a carreira de médica estava prestes a deslanchar,e não perderia aquele sonho por nada.Quando foram ver as horas,já se passavam das duas da madrugada,e as mulheres resolveram ir se deitar.
                   
                    Ao amanhecer,bem cedo,Marie levantou-se e foi cuidar dos afazeres domésticos.Ela,como sempre,fazia as refeições da casa.e seu marido continuava dormindo até que ela o chamasse para o almoço.E assim se passaram as duas semanas que o casal ficou ali.Ela,cada dia mais desapontada por ser esquecida pelo homem que a amava,ele,envolto em seu drama teatral,aguardava ansioso a volta para Paris.

                    Enfim,chegou o dia de voltarem para casa.Marie ficara durante toda a manhã matutando coisas com a mãe,e as duas combinaram de se ver em breve e dessa vez era a mãe quem iria visitar a filha.Um pouco grosso demais,Calvin pegou as malas,colocou-as em um carro que alugara e despediu-se da sogra,que morava sozinha pois o marido havia falecido há três anos.Marie,chorando, carinhosamente despediu-se da mãe e recolheu suas malas ao carro.Aquela despedida seria sofrida,pois a mãe representava para Marie a honra de ser uma Wilheim,uma figura generosa e ao mesmo tempo astuta,que era ótima conselheira.

                    Cerca de algumas horas depois,o casal chegara em Bruxelas para pegar o ônibus que os levariam para Paris,porém Calvin disse que tinha negócios a resolver na cidade e que teria que se instalar por ali por uma semana.
                    -Quais tipos de negócios,meu amor?Questionou Marie,desconfiada.
                    -Coisas de corretor!Você não vai entender- Respondeu-a Calvin,um pouco indelicado- Vá e prepare minha casa para meu retorno.Quando eu voltar,quero ter um filho com você.
                    Aturdida e consternada,Marie deu meia volta e desatou a chorar silenciosamente.Não despediu-se de seu marido antes de ir rumo ao terminal rodoviário para ir à Paris.
                     “O que ele queria dizer com ter um filho comigo?”-Marie ficou por horas matutando a frase de seu marido.



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