Isa era apenas mais uma pessoa.
Era jovem, mas não se comportava como tal. Estava alheia a tudo que acontecia a
seu redor, não por opção, mas por ser considerada um estorvo a todos. Queria
ser aceita, importante, ao menos para alguém. Buscava ser sempre uma pessoa
diferente para agradar quem estava ao seu redor. Seus esforços eram em vão.
Seu frágil coração já não
aguentava tanta traição, egoísmo, falta de caráter; decidiu correr atrás das
coisas boas da vida, já que acreditava com fervor que elas poderiam existir.
Consideravam-na, por isso, como uma tola e aos poucos passou a se tornar
invisível. Gradativamente, a menina antes feliz e radiante se viu afundando em
uma tristeza densa, que a sugava sempre mais. Não havia como lutar contra
aquele sentimento.
Assim foi levando sua vida, como
se sua presença se tornasse um fardo cada vez maior às pessoas. Não a todos,
vamos deixar isso bem claro, uma vez que possuía utilidade na vida de alguns
que a usavam e deixavam quando não tinha mais serventia. Era mais um objeto,
como um lápis, uma caneta ou até mesmo um travesseiro.
Não possuía ambições, queria
viver um dia de cada vez. O amor não fazia parte de seu dicionário, não podia
se dar ao luxo de tê-lo. Como disseram certa vez, o amor é uma fraqueza. Sabia
também que se caso um dia isso fosse acontecer, não seria correspondida.
Afinal, quem teria coragem de amá-la?
Aos poucos foi perdendo sua
identidade. Suas músicas não a pertenciam, seu estilo não a agradava. Tornou-se
agressiva, amarga. Sentia-se em um mundo diferente e às vezes confidenciava
isso a algumas pessoas que logo se aproveitavam da situação.
Via em seus livros, o ápice da
felicidade. Sentia falta da época em que não era rejeitada, nem marginalizada.
Buscava se encontrar com o passado nas obras de diferentes escritores. Era
nesses preciosos momentos que se sentia livre, próxima de seu verdadeiro eu.
Zombavam, caçoavam... e por
diversas vezes, ficara sozinha chorando, refletindo o quão é horrível viver.
O espelho era seu único inimigo.
Não conseguia encarar suas provocações por muito tempo. Gorda, feia, com muitas
espinhas, muitas olheiras... poucos sorrisos. A falta de lábios a perturbava,
assim também era com os dentes que achava grandes demais. O cabelo, sempre
rebelde, era escondido por um coque rápido, apressado... deixando a mostra seus
braços roliços.
Sentia-se inútil e odiava quando conseguia
abrir os olhos pela manhã. Era mais um dia cruel que teria que enfrentar.
Em uma noite, cansada, deu boa
noite a seus pais, colocou sua irmã com afeto na cama e fez questão de
pronunciar um “eu te amo” a todos. Rezou uma prece, não por si, mas para a
humanidade. Antes de se deitar, foi até a lavanderia e fez uma mistura com
ervas, produtos de limpeza e formicida. Degustou a sua libertação, que desceu
amargo como sua vida, e deitou-se em sua cama. Jamais acordou.
(“Jéssica
Stewart”)