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terça-feira, 30 de setembro de 2014

E assim se faz fim

Colocou o casaco, marrom de botões pretos, uma gola levantada pra cima, as mangas sutilmente arrebitadas e os bolsos devidamente fechados a velcro. Logo em seguida vieram as calças, pretas e de corte singelo, um cinto branco a mantém longe de se deixar levar pela gravidade e rabiscar um enorme vexame na vida do moço. Os sapatos, marrons também, mas de couro e sola escura que estralam ao beijar o solo. Os cabelos negros são penteados para trás e o gel lhe dá uma aparência molhada e engravatada de sempre.

domingo, 28 de setembro de 2014

Devaneio


Vi-me correndo em uma campina graciosa, quiçá encantada. As flores, de várias espécies e cores diversificadas cobriam todo o chão, exalando um perfume doce. Borboletas cobriam o ar à medida que meus pés, descalços, tocavam o chão. Simpáticas, voavam ao meu redor, roçando em minha pele e provocando uma gostosa sensação. Abri meus braços e me virei para o céu, agradecendo a Deus pelo momento maravilhoso que estava me proporcionando. Os raios de sol tocaram meu rosto, irradiando seu calor e me enchendo de alegria.
Um belo beija-flor se aproximou, batendo suas asas rapidamente e se escondendo em meus cabelos, fazendo cócegas. Estendi a palma da mão para acariciá-lo e algo aconteceu.
O céu, antes limpo e azul, tornou-se escuro e com nuvens de um cinza muito macabro. As flores jaziam mortas no chão e em seus lugares surgiram outras, cadáveres, e plantas carnívoras. O perfume agridoce existia apenas na vaga lembrança, que se esvaía. As borboletas se transformaram em corvos, que esganiçavam estridentemente, perturbando a paz que outrora existira.
A escuridão me engoliu.
O pequeno pássaro que me trouxera tanta felicidade mergulhou rapidamente no ar e usou seu bico afiado para penetrar em meu pé, causando um machucado tenebroso. O sangue jorrou de forma inesperada. O pequeno buraco causado pelo pássaro começou a se expandir, deixar parte do meu esqueleto à mostra. Logo percebi que a ferida estava enfestada de minúsculas larvas que decompunham minha carne.
Caí no chão.
Tentei gritar por socorro, mas o ar estava rarefeito. Meus pulmões queimavam e minha garganta se fechava. Restava apenas esperar por meu final. Fui arrastada, subitamente para a realidade.
Acordei.
Estava em casa como de costume. Minha cabeça doía. Aparentemente estava tudo normal. Levantei-me.
Instantaneamente, avistei em meu pé algo horrendo, pior do que qualquer ferida purulenta em decomposição. Dessa vez, consegui soltar um grito de horror. Comecei a chorar desesperadamente e, à minha porta, surgiram inúmeras pessoas. Olhando com pavor, consegui enfim dizer:


sexta-feira, 26 de setembro de 2014

O assassino da catedral - Parte 1



O homem experiente semicerrou os olhos e coçou o queixo, ordenando com certa rispidez à equipe pequena, com uma xícara gigante de café na mão. Subiu os cinco degraus e tocou na porta de madeira, cheia de fibras, lotada de histórias, e lembrou-se de um passado perdido que a igreja vivera durante o período da guerra, onde judeus se esconderam ali dos nazistas que invadiram a Polônia. Abriu com dificuldade as portas da catedral e contemplou a escuridão em seu interior. Também as janelas, deixando entrar ar e luz solar por entre os bancos, logo visualizando a cena do crime.


terça-feira, 23 de setembro de 2014

Vida e morte poética

Eu morri
para dar vida aos meus textos.
Não sinto.
Não escrevo.
Tão pouco sei o resultado final.
Quanto ao significado,
quem imprime é você.
Sou apenas um instrumento.
Usada pelos meus versos.
Que assim seja, afinal.
Enquanto houver palavras a serem ditas,
enquanto tiver algo a ser expressado,
estarei morta
para trazer vida
à cultura,
à arte,
às palavras que vivem em mim
("Jéssica Stewart")

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Penumbras e Sol

Dentre meus devaneios,
vi uma penumbra se aproximar.
Fria, escura.
Envolvia-me.
Sugava-me.
Transformava-me em um alguém diferente.
Quem eu era?
Quem havia me tornado?
Não sei, não sei...
pois eis que o Sol surgiu.
Minha vida se purificou.
Você juntou todos os meus cacos.
E minha vida viciou na sua luz.

("Jéssica Stewart")

Lembrete

Quando a tristeza lhe abater
e o cansaço te desanimar
não se entregue,
não se deixe levar.

Lembre-se de que ainda estou aqui:
Vivo,
Respiro,
Sonho.
Assim como você.

Faça-me de muletas se lhe apetecer.
Me ligue, 
precisando ou não...
eu sempre estive aqui.
Apenas, por favor, não se esqueça de nós.

("Jéssica Stewart")

Bucolismo

Vejo pássaros atravessando vales com seu voo gracioso.
Árvores dançam com o revitalizante sopro do ar.
Há uma energia que reverbere por todos os lados.
Rodeia-me.
Pede para entrar em minha vida.
Eu logo cedo.
Instantaneamente sinto, tudo.
Há um doce perfume sendo exalado pelas flores endêmicas.
Há vida por todos os lados.
Há amor.
Há felicidade.
Meu corpo sucumbiu,
minha mente enfim encontrou seu descanso.
Estou em paz.

("Jéssica Stewart")

Recordações

     Mal eram seis horas e seu despertador soava. Sonolenta, pegou o celular e colocou uma música aleatoriamente a fim de espantar o sono. Sorriu. Era a música que ele gostava de cantar.
     Uma gota salobra pulou de seus olhos enquanto admirava uma foto deles. Ela, sorridente - como sempre -, agarrava-se ao pescoço dele, que provavelmente emitia um grito no momento capturado.
     A saudade a dominava, dominava, dominava... queria sentir o perfume dele, queria abraçá-lo, queria ao menos ver o tom bronzeado de sua pele. Outra gotícula percorreu o trajeto. Veria-o logo, dizia a sim mesma com convicção, que logo se esvaía e se transformava em lamento. Queria o bem, tranquilo e sereno, como sempre fora.
     Admirava-o, amava-o, não como as pessoas comuns. Sentia uma intensa conexão por ele e isso tornava possível o florescimento de sentimentos puros. Era seu melhor amigo, de fato, mas via-o como seu anjo, mandado à Terra para tornar seus dias coloridos.
     Guardou a foto, relutante, e se dispôs a trocar de roupa. A vida seguiria em frente e ela teria de lutar para acompanhá-la, com ele ou sem, mas sempre por ele.

("Jéssica Stewart")

Desista

Abra teus olhos, querido
e veja que na vida há
muita coisa além para me preocupar.
Teu amor já não me encanta.
Teu sorriso não mais me apaixona.
Aprendi a viver sem ti
e nessa ausência, aprendi a ser eu.
Somente eu.
Nada mais.
Agora respiro!
Agora EU VIVO!
Não adianta colher um fruto já podre.
Ages tardiamente, meu caro.
O amor que antes existia, não habita mais
esse peito dilacerado e vazio que há em mim.
Desista.
("Jéssica Stewart")

Entre Contos - Concurso

O site Entre Contos desenvolve ocasionalmente concursos de escrita sobre diversos assuntos e, desta vez, o tema é "Conto baseado em uma música". Claro que Walter Crick e Douglas Moreira não ficariam de fora desta. Entre no site, veja o regulamento e vote em nossos autores. Boa sorte a todos eles!


Texto de Walter Crick - Faremos do mesmo jeito (Pois adoramos os problemas)
Música : Balaclava - Artic Monkeys





Texto de Douglas Moreira - E Eu Tentarei Consertá-la


Música: Fix You - Coldplay




sábado, 20 de setembro de 2014

Apoteose de Ícaro - Parte 4 (Final)

Olhei para a escuridão que se arrastava no vale tenebroso lá embaixo, com a luz do por do sol batendo nas plumas grudadas na armação e deixando-as douradas, balançando com o vento. Senti-me como um jovem pássaro prestes a voar pela primeira vez. Ouvi as brisas sussurrando em meu ouvido e provei o sabor da liberdade.
Sem perceber o que fazia, joguei-me do penhasco, lançando-me à morte ou à apoteose de minha vida.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O assassino da catedral - Prólogo

As velas bruxuleantes davam um tom mórbido ao local, com as chamas dançando na penumbra, hora azuis como o medo, hora laranjas como a coragem. O silêncio era ensurdecedor. Os longos cachos encaracolados pendiam molhados de suor, e os fios grossos ressaltavam ainda mais a sensualidade natural da mulher. O nervosismo tomava conta e não a deixava perceber o par de olhos que a observava por entre a escuridão latente, comendo-a com o olhar azul de um homem sedutor. Seu pálido rosto feminino escondia-se sobre um véu negro, rendado, e que fora colocado especialmente para deixa-la anônima; impedindo a visão de seus finos traços.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Arte de saber

Sabia-se que nem sempre é sabido
que o sábio não sabe o que deve ser.
Nem mesmo a sábia sabedoria
revelaria um dia
que fim teria de ter.
Só sei o que me foi falado,
por vezes revelado,
coisas que mal sei explicar.
Mas não é necessário ser um sábio
para saber o que eu sei.
Quer saber um segredo?
PSIU! Um dia te contarei.
("Jéssica Stewart")

Apenas um poema

Agora resolvi escrever
Coisas do coração
A alegria de poder viver
Detendo sempre a razão

Por que não desviar-me então
Daquela reles solidão
Sutil impedindo-me de crescer
Sutil, lembrando-me de v...

Walter Crick

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Oblivion

Andava por essas ruas vazias,
inóspitas, sem vida,
despindo de suas vergonhas,
cuspindo horror por suas entranhas.
O calor humano jazia
dentre as paredes, agora frias.
Pude sentir o esquecimento chegar.
Envolvia-me por completo, não podia suportar!
Não resisti.
Entreguei-me ao Oblivion.
Sim, eu fui mais longe do que você.
("Jéssica Stewart" e "André Luiz")