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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O assassino da catedral - Parte 3









Abriu as portas de seu quarto, estupefato. “Onde raios estariam as roupas limpas? Será que as deixei na dispensa?” Arqueou rapidamente e, dando meia-volta, bateu de cara no rosto fechado do detetive Isaac.




-O que fazes aqui, padre? – Questionou o investigador, dobrando as mãos como uma mãe o faz com as suas quando seus filhos lhe aprontam travessuras.
-Isaac! – Exclamou aturdido, com o coração lhe saltando do peito. – Eu vim em busca de roupas limpas. – Teve de contar a verdade, visto que fora pego com as mãos em uma de suas cuecas boxer novinhas que o frei trouxera da cidade recentemente. – Estava me dirigindo ao banho.
-Então terá tempo de me contar algumas coisas enquanto se limpa com água quente. Dizem que o vapor é um ótimo condutor elétrico e melhora os impulsos cerebrais. – Viu que o religioso o observava com certo desdém, apesar de um sorriso malvado que parecia querer simular o contrário.
-Pois bem. Se quiser me acompanhar então... – E saiu dissimulado, apressado e atordoado, com a cueca balançando na mão e esperando que o detetive não notasse os respingos de sangue em sua batina negra, já coagulados e craquelados perante o frio que se encerrava lá fora.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O assassino da catedral - Parte 2





Na mesma hora, em um hotel não muito longe da catedral e próximo ao centro da cidade de Łomża, acabara de acordar um homem novo, bonito e cativante. Lavou as mãos na pia das estalagens simples e passou a mão pelo sobretudo negro, que usava por cima das vestes também da mesma cor. Recebeu no quarto um singelo café da manhã, contemplando o sol que nascia tímido no horizonte.
-Obrigado, senhor, volte sempre. – O recepcionista pegou nas mãos que um dia estiveram sujas.
-Fique com Deus. – O homem de negro saiu, deixando um ar místico no lugar. Andava tranquilamente por entre as ruas de pedra do centro histórico da cidade.
Naquele dia, todavia, o jovem não entrou em lugar nenhum. Seguiu caminhando e rodeou a igreja, esquivando-se de alguns policiais que analisavam a catedral, indo diretamente à casa paroquial, decidido. Contornou o perímetro de um pátio sossegado atrás da construção, passando a mão nos bancos cobertos de neve, limpando a sujeira por entre os dedos ásperos.
Um daqueles policiais tocou-lhe no ombro com cordialidade.
-Padre! O senhor não pode prosseguir, infelizmente. – Seu coração pulou de susto.
-Céus, você realmente me assustou. – Riu, desconfiado. – O que aconteceu por aqui? – Olhou para o horizonte e para o resto das pessoas que estavam à frente da catedral.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Tudo azul

Seus olhos me seduziam. Estava eu estático, ela também. Ambos nos fitando como rivais; bichos do jeito que éramos. Azuis como sempre foram estavam suas íris, na cor azul-piscina, radiantes e imersas em profundo mistério. A pupila sempre dilatadíssima antes me preocupara, mas agora, e somente agora, pude ver que elas eram assim mesmo. Metamorfose? O fato é que seus olhos me seduziam.